20100208

AS INSÓLITAS FÉRIAS DE MONSIEUR MORET

Pierre entrou no mar naquele sábado de calor extremo na ilha do mel para refrescar-se, andou alguns metros e segundos depois Pierre pedia por ajuda dos que estavam na praia...

Narciso inc. que estava coincidentemente há poucos metros de Pierre, ordenou há sua filha que esperasse na parte rasa da praia e entrou para tentar ajudar ao homem que estava se afogando... narciso inc. andou alguns metros e alguns segundos e em sua cabeça apenas uma coisa era possível ser ouvida... é possível que hoje seja meu último dia, se eu não conseguir trazer o homem para a margem certamente é porque terei sucumbido junto e minha filha estará lá na areia vendo seu pai vivo pela última vez... mas narciso inc. sabia que esse pensamento era mais um daqueles pensamentos idiotas que sempre tinha medo de ter e já não se importava muito com que sua cabeça dizia... mais alguns metros e mais alguns segundos narciso inc. estava voltando para a margem com um Pierre exausto e com dois litros de água salgada que havia ingerido e uma enorme dificuldade para respirar...

Pierre deu um sorriso de alívio e alegria que narciso inc. entendeu como um sinal de agradecimento por te-lo ajudado... mas narciso inc. não sabia que estava dentro de um elaborado plano para que sua própria vida fosse salva

Pierre sempre soube, desde a primeira vez que viu narciso inc. alguns dias atrás que precisa fazer algo a respeito...

- parlez vous français? Disse Pierre com um sorriso.

- vous êtes dans ma maison ... vous devez parler ma langue! respondeu narciso inc. com sua cara de poucos amigos habitual...

Pierre sabia mais que nunca que deveria fazer o sacrifício para salvar aquela alma perdida nos largos caminhos da incompreensão.

Os dias se passaram e por intermédio de acasos conseguiu se aproximar de narciso inc. com discussões sobre niilismo, a crise do pensamento ocidental, o preço do quilo da farinha de mandioca em Bruxelas e essas conversas comuns nos dias de chuva...

Pierre, que era um sobrevivente da caça aos partisans pelo governo francês que não mais queria pagar aposentadorias para os heróis de ontem por orientação da comunidade européia; sabia que não seria fácil convencer o narciso inc. há abandonar sua couraça de rancor e desilusão com o ser humano e então elaborou seu grande plano...

Todos os que já conheceram Pierre sabiam de suas habilidades físicas... todos os anos viajava para ardèche para ver seus amigos e Le cirque de la Madeleine e partia nadando os 1012 quilometros do loire até o departamento de loire-atlantique talvez porque Nantes lembrasse a cidade de Recife, mas o fato é que nunca parou para descansar, sempre nadava, nunca descansava... Pierre colecionava nas paredes de seu apartamento no 7ème arrondissement os diplomas das inúmeras travessias do canal da mancha, Loire, Seine, Rhône Garone,Dordogne, Meuse, Charente, os 400 metros livres quando ainda era uma criança e seu favorito que guardava sobre a cabeçeira da cama quando nadou pela primeira vez o rio Seybouse...

Peirre no decorrer de sua vida nadou,correu, viajou, casou,foi anarquista, foi punk, lutou nas guerras, lutou contra as guerras e fez tudo que se é possível fazer nessa vida... mas Pierre sabia que ainda faltava em sua vida algo que nunca encontrou em seus estudos de Nietzsche, de Baudrillard, de Marcuse, de Lucaks, de Deleuze, de Sartre , da tia Marion, de seu irmão Antoine que se casou muito cedo... Pierre precisava conhecer e sentir na pele a experiência de salvar uma vida... Pierre foi voluntário no norte da África e salvou muitas vidas, nos dias de frio salvou muitos imigrantes argelinos das ruas de paris... Pierre precisava salvar uma vida... mostrar que o ser humano ainda vale a pena, que é possível não se render às imposições do mercado e suas perversidades, que é possível se amar incondicionalmente aqueles que sequer conheceremos... enfim, Pierre precisava sentir que toda uma existência não foi em vão e que apesar das adversidades da vida ainda resta guardado dentro do ser humano o espírito primitivo do amor universal...

Quando Pierre entrou no mar naquele sábado de sol escaldante sabia que não era sua vida que estava em jogo, mas o ser humano estava sendo testado em seu propósito de existência...

Pierre muitos anos depois pensou em sua cadeira de balanço quando fazia seu neto mais novo dormir:

Eu não poderia estar enganado... não, eu não poderia...

mon ami Pierre ... qui a sauvé ma vie

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