Angélica sempre viveu no interior e sempre acreditou que passaria o resto de sua vida naquela pequena cidade e isso de alguma forma a incomodava muito... mas isto estava muito longe agora, só o que conseguia pensar era que não podia mais se distrair...Olhava para o topo das árvores para assegurar-se que não seria surpreendida novamente, mas não conseguia mais não pensar em sua infância, e podia realmente ver em sua frente como um filme caseiro os lançamentos de bolas de neve misturadas com terra nas costas de sua amiga verônica que imediatamente a atacava com outra bola de tamanho maior; mas agora são projéteis que explodem nos corpos e abrem buracos de tamanho de uma bolota e por isso sabe que não pode pensar nessas coisas...
Pensava sempre no tiro que levou e que por sorte só arrancou a metade de sua orelha esquerda... foi o acaso que a salvou como foi o acaso que lhe trouxe até as matas densas do acre, segurando um fuzil de precisão duvidosa...
Angélica sonhava que caminhava nua pela praia e seu seio escorria pelo seu corpo como um inseto que procura um lugar para se esconder... o seio estava ora em suas costas, ora na coxa e quando não podia enxergar é porque ele deveria estar em sua nuca... acordava assustada e apalpava os seios procurando um caroço... deve ser câncer, pensava
Meses depois angélica descobriu que estava grávida e carregava consigo as lembranças do homem que amava e parte dele dentro de seu corpo... levava consigo a esperança de um mundo diferente e depositava toda essa carga no rebento que aguardava...
Angélica alistou-se na milícia pela facilidade de acesso à comida limpa, mas aos poucos foi assimilando a idéia do grupo... empunhava as armas como um soldado que de fato era, mas seu objetivo era exterminar o grupo rival que só desejava a guerra como alternativa ideológica...
Angélica nas noites de muito calor pensava como podia estar grávida se foi apenas um beijo de despedida antes de pegar o ônibus e como o mundo acabou no período de uma viagem para casa sem que tivesse percebido
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