20100723

entrevista com o NARCISO INC. em cortez bank


- que história é essa que circula por ai que você não vai morrer?
- então, as coisas são assim mesmo, as pessoas estão tão preocupadas com as coisas que passam ao seu lado como se não suportassem mais olhar para si, eu particularmente acho as pessoas coisas muito estranhas.
- então é verdade que você acredita que não vai morrer?
- está claro que eu não vou morrer
- em que sentido que você diz que não vai morrer e porque está claro que você não vai morrer?
- porque eu disse isso
- eu pensei que era sério, que você acreditava que não iria morrer mesmo
- entenda, eu não saio por as ruas gritando os valores impressos em meu extrato de conta corrente nem você tampouco diria nesse microfone com filtro que gostaria muito de transar com sua vizinha; não é delicado, a não ser que você esteja pronto para tudo que refletirá em seu meio com essa escolha; é algo muito pessoal... está claro também que você acaba de um modo deliberado dividindo com seus próximos alguma particularidade... só não fico nada à vontade com as pessoas comentando algo tão pessoal como minha escolha de nunca morrer.
- caralho, então você acredita mesmo que não vai morrer
- pode falar caralho assim em rede aberta?
- não
- é muito engraçado como as pessoas de um modo geral reagem à palavra escrita, falada e ou repetida; reagem como descargas elétricas que passam por seus corpos quando é algo tão comum... se eu disser, por exemplo: no pasarán! Você vai associar às lutas espanholas contra o fascismo nas décadas à partir de 1930 e à todas as informações associadas ao comunismo, sexo, parques de diversão, comida indiana e calças que vestem bem; e são apenas impressões que você se sujeitou ao longo de décadas de herança genética que você pode mas não quer abrir mão porque é cômodo; eu não vou morrer está inserido neste contexto assim como, caralho, preciso comprar meias novas de algodão, o que acontecem com minhas meias?
- nessa linha de pensamento pragmático, posso simplesmente dizer que vou ganhar na loteria e eu ganho?
- sim, mas a questão é que você não quer ganhar na loteria
- eu quero ganhar na loteria
- você não quer ganhar na loteria porque você acredita que o dinheiro é contrário ao trabalho e por que você acredita que o trabalho está ligado ao movimento cinético e a cinética à razão de sua longevidade e herança genética; você acredita que a loteria vai tirar toda sua segurança em relação aos amigos e à integridade dos seus e você quer ter certo controle em relação à sua vida; você nasceu de gerações de pobres desgraçados que passaram toda a vida correndo atrás de uma justificativa para o dinheiro que ganharam como se procurassem um álibi para um crime; o dinheiro, no seu caso é algo que você não quer porque ele conota coisas que você sabe que não está preparado.
- não acredito ser uma justificativa válida usar a navalha de occam
- se você pensa assim então ganhe na loteria e depois me diga se eu não estava bem próximo de revelar seus motivos
- você não acha que de um modo ou de outro você acabou enlouquecendo nesse meio tempo entre a adolescência e a contemporaneidade?
- contemporaneidade? Que tipo de pessoa afetada fala contemporaneidade?
- sei lá, deve estar no meu vocabulário... coisas da escola eu acho
- vou dizer para você... ninguém é louco ou mesmo enlouquece, não existe essa coisa de loucura, você vai ficar falando de Foucault agora? Existe apenas como você processou as informações e ponto final, o resto é tudo uma resposta natural... um produto, como merda... você não pensa: hoje eu vou defecar em forma de coelhinho da Páscoa e amanhã vou cagar um controle remoto de som automotivo... você senta e a coisa sai como você imagina que é o formato interno do canal que leva para fora do seu corpo... apenas informações.
- você está dizendo que não vai morrer e está me dizendo que se eu quiser aumentar a minha estatura em duzentos e vinte milímetros é só eu acreditar nisso que vai acontecer... e a loucura é coisa de um rato de biblioteca que sequer se deu ao trabalho de viajar pelas pequenas cidades francesas para ter in loco uma opinião diversa daquela que outros acadêmicos escreveram?
- para que você iria querer aumentar sua estatura?
- eu sempre tenho problemas com cortar aquela parte da calça para fazer a barra... meio que você está destruindo a obra de uma máquina
- você tem que ver que as barras de calça são o único meio de sobrevivência de muitas mulheres abandonadas pela sorte, e são mulheres muito especiais com uma coisa meio céltica em sua origem mais remota que não se pode desconsiderar
- as vezes fico pensando se a indústria não faz essa sobra do cano da perna para deixar as pessoas desconfortáveis com sua condição humana... pouca perna, muita perna, pernas finas, pernas grossas... sabe que eles sempre se reúnem, esse pessoal da indústria
- entendeu, agora? Tudo se trata de ser leal com você mesmo... lealdade com as coisas que você acredita e com as pessoas que estão ai também e que se foda o resto

2 comentários:

  1. realmente,substimar-se o tempo todo é feio....
    ouvi isso em algum lugar e acredito,hj,ser realmente verdade...
    não sou baixinha,apenas as calças são compridas para que outras pessoas possam lucrar com o ramo da moda...

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  2. nhum, nhum, nhum !!! alguém em algum lugar deve estar se divertindo muito neste exato momento... e pode ser voce! hahahahahaha!!
    grande beijo!

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