- você foi considerado um desastre literário por diversos críticos que vêem seu trabalho como "um despropósito humano" o que você tem a dizer sobre esse tipo de ataque?
- acho muito saudável as pessoas escreverem seus pontos de vista e que suas opiniões sejam avaliadas por outrem, essa é a premissa da liberdade de expressão.
- não seria o fato de voce, em suas crônicas, atacar deliberadamente todas as instituições humanas e principalmente as que pretendem defender o público de todo esse lixo que se produz hoje?
- eu nem imaginava que escrevia crônicas... os críticos escrevem o lixo que eles acreditam, eu escrevo as merdas que quero escrever e você faz as perguntas cretinas que acha necessário para o padrão jornalístico, todos de um modo ou de outro estão tentando marcar suas posições como cachorros mijando onde é possível se mijar e perceba que os cachorros são seres muito confiáveis.
- você está afirmando então que acredita nas coisas que escreve?
- está claro que não... apenas estou respondendo sua pergunta, e para responder tenho que dizer algo e foi isso que fiz.
- tudo não passa de frases caóticas que você junta e escreve?
- eu acredito que deve haver uma função, não sei qual, mas se você levar em conta que somos produtos de nossas impressões, não pode ser apenas caos ou um grande embuste proposital... você pode dizer que Goethe é um lixo e isso não vai fazer com que você não aprecie a literatura, porque ela se manifesta como quer.
- então temos que aceitar toda a produção com medo do erro, para não incorrer no erro dos críticos do expressionismo?
- se você escrever uma matéria sobre um assassinato em forma de poesia você será demitido por que essa não é uma prática apropriada ao academicismo, e você terá privado os leitores de ver o fato, que não deixou de ocorrer, com uma ótica diferenciada sem que aja partidarismo moral; é idiota escrever em forma de poesia, mas o ponto é que você subverteu uma ordem que está alicerçada em uma objetividade da escrita desnecessária; e se você escrever em forma de anagrama também.
- mas você não está levando em conta que o público precisa entender a mensagem da melhor e mais apropriada forma possível.
- e você acredita que as pessoas lêem para entender alguma mensagem e que se escreve para se transmitir alguma mensagem?
- essa é a função da linguagem... se fazer entender.
- e se eu disser que as pessoas lêem por que estão entediadas demais com seus arremedos de vida e pensar sobre seus próprios assassinatos não é tão divertido quanto as chacinas na casa de desconhecidos?
- eu sou um exemplo de leitor que lê por me importar com que o escritor está pensando.
- mas você nunca foi a casa de um escritor desses que você entrevista se oferecer para pagar sua conta de água se fosse necessário ou se importar por suas perdas ou a solidão; os cachorros se importam ao ponto de assimilarem a doença de seus entes queridos.
- você coloca as coisas de um modo fatalista, como se nada valesse a pena... mas você já leu Goethe e diz que é um lixo, não é incongruente esse ponto de vista já que você lê e escreve?
- não acho Goethe um lixo, graças ao Os sofrimentos do jovem Werther de Goethe muitos morreram pelo amor romântico na década de 1770 diz a crítica literária e Goethe apenas escreveu coisas que um bando de idiotas entediados assimilou com uma mensagem verdadeira... e também não acho que suas perguntas tenham sentido assim como as minhas respostas
- é justamente o que a crítica diz; que você não passa de um velho oportunista que pensa ser um pré- adolescente.
- na verdade a crítica diz que tenho idade mental de um pré-adolescente... não vejo isso como uma crítica ruim, na verdade é bom ser pré-adolescente... os pré-adolescentes não tem muita noção do ridículo e vivem mais livres, sem as amarras que impedem os críticos de escreverem ou as pessoas de viverem suas vidas plenamente.
- você tem noção que essa entrevista não está acontecendo, que é tudo coisas da sua própria cabeça e que você está falando sozinho?
- sim.
- e isso não o incomoda? digo do fato de falar sozinho e escrever o produto disso?
- nem um pouco, é apenas o despropósito se manifestando.
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