NARCISO INC. & o monólogo de apenas um ator

Há mortos que gostam de ser lembrados pela vida que levaram ou pela suas ações que levaram mais beleza ao mundo , colorido ou monocromático sempre a merda é proporcional ao tamanho do cu, é sempre o estado presente que determina todas as coisas; por entender a vida deste modo e por entender que era apenas seu modo de entender a vida escolheu apenas escrever, não queria entender algum grande mecanismo que nos move ou descobrir o sentido que as escolhas direcionam.
Sabia que a literatura estava repleta de vinganças e despropósitos; podia muito bem ouvir ao fundo “ todos vão pagar com seus dias pelas palavras de traição” quando lia o parágrafo onde o homem descrevia o nascimento de seu filho, e não podia suportar que se cometesse tamanha violência com um ser que depositava toda sua confiança e toda sua frágil vida naqueles braços que o guiariam e que escreveriam o futuro.
Ninguém pode descrever o nascimento de um filho escrevendo, pois ninguém inventou a palavra que leva ao riso e ao choro que se alternam em ondas infinitas e explosões neurais que podem validar todo o propósito de sua existência; falam em sinestesia, mas sinestesia é apenas no momento do orgasmo; o que acontece depois é tão devastador em seu mundo que não haveria palavra ou imagem que se aproxime ao que aconteceu dentro de você.
Escrever seus dias foi a única coisa que imaginou ser mais sincera consigo e caminhou para ser um morto que pudesse ser deixado em paz.
Assim decidiu nunca escrever nada de bom, apenas as coisas que apareciam em sua memória como vozes que havia esquecido, nada de helicópteros, water melon, estalactites e estalagmites, afogamento por osso mole de galinha, über e aquela menina do interior com macacão amarelo e camiseta branca que chorava; apenas partes do corpo que vão se movendo.