20100412

NARCISO INC. por pouco tempo

o carteiro bateu os quatorze pares de palmas até que eu conseguisse chegar ao vão do portão para pegar a correspondência, falou alguma cordialidade que não ouvi e despediu-se com algo que e parecia até quarta-feira que vem se deus quiser e deixou a mesma pilha de contas e avisos de corte e notificações judiciais falsas para amedrontar mal pagadores; normalmente são dinheiro jogados fora e árvores de replantio que morreram sem um nobre motivo como um poema bem escrito ou um telegrama dizendo que vou te abandonar.
entre todo aquele monte de lixo estava uma carta enviado por Adão, aquele que foi o primeiro homem na terra conforme a tradição judaico-cristã. é estranho depois de tanto tempo receber notícias de alguém que já morreu querendo atenção de alguém que sequer nasceu, mas como nada do que se percebe é realmente o que parece ser e todos os olhares sempre apontam para a mesma direção aceitei a carta e beber algumas cervejas antes que a possibilidade da morte nos faça perdoar a humanidade de todos os seus crimes...
EU - porque agora?
ADÃO - por que? você sabe porque...
EU - e o que eu sei é suficiente? então vamos começar a tratar das mesmas merdas do passado da humanidade?
ADÃO - só tenho medo das possibilidades
EU - você deixou de ouvir as coisas ou nunca ouviu e agora vem me procurar para ter certeza de algo que ninguém nunca terá, como se eu não fosse perceber que tudo gira em torno do medo.
ADÃO - não me entenda mal... é que por estar livre, agora... pensei que...
EU - então eu sou um idiota e você gosta da companhia de idiotas... o que você quer provar? quer que eu acredite que somos todos inocentes e que nossas escolhas são equívocos e o destino está fodendo todo mundo por diversão?
ESTRELA DA MANHÃ - é que ele cagou no pau e agora está com medo de admitir que cagou no pau.
ADÃO - você vai tomar no seu cú... porra eu confiei em você... toda aquela conversa fiada de liberdade...
EU - acho que vocês tem muito em comum e deveriam se abraçar mais. iogurte, escapamento de carro, reuniões, óculos, filmes asiáticos e bermudas feias... todos se abraçando e comemorando a existência.
GABRIEL - você bem que poderia ir direto ao ponto, essa coisa de grau de separação parece mais uma piada que só entende quem conta, e o legal é todo mundo entender a piada... sabe, aquelas coisas que duram pra sempre.
NARCISO INC. - mohamed ali ainda está vivo?
EU- tudo bem... então lá vai! você tinha tudo, cara! eu falei coisas que ninguém ousaria dizer sem levar umas boas porradas e ganhar cicatrizes em forma de L ou T para que todo mundo entendesse que as coisas que eu vejo não são a coisas que estão na minha frente.
ADÃO - é por isso que estou aqui... para que você perdoe as coisas que eu fiz e deixei de fazer.
EU - e você acha que precisa pedir perdão? perdão é a forma mais baixa de se livrar do aprendizado como se o aprendizado fosse algo dispensável... além do que o perdão é pílula dos moribundos para a sobre vida enquanto não conseguem suas moedas para pagar o barqueiro.
GABRIEL - então essa coisa de barqueiro é verdade?
ESTRELA DA MANHÃ - claro que é... de onde vem a nave da loucura, senão do paraíso...
EU - o fato é que não se perdoa algo que não existe... e você deixou de existir quando resolveu seguir pelo caminho de tijolos dourados.
ADÃO - dissulfeto de ferro, como eu poderia saber?
NARCISO INC. - o comandante sempre tem que saber!
Adão foi expulso de casa e agora vaga pelado fazendo guarda no portão de alguma indústria, esperando que o amor e a cortesia acenem com um sorriso sincero e alguma piedade por sua condição de exilado.
NARCISO INC. - jogue o lixo, por favor, que a semana vai começar

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