20100420

NARCISO INC. no instante em que o mundo parou


gostava de sua condição humana, saber que seu corpo relaxaria a produção de células e definharia ao longo do tempo até que aquela forma que se desenvolveu durante alguns anos desapareceria se transformando em alimento de vermes e vegetais rasteiros mas não gostava da ideia de ratos ou toupeiras se alimentando de sua herança atômica pois ratos e toupeiras e coelhos se reproduzem como animais.
pensava nas inúmeras vezes que trocou de pele e essas partículas de tudo o que sempre foi se espalharam pelo ar alimentando toda sorte de seres vivos e garantindo a longevidade das coisas que acreditava e prezava como verdades para se atingir alguma felicidade; na verdade nem sempre foi sempre assim, quando pulou do terraço do prédio porque não havia nada no mundo que tivesse um sentido válido e nunca entendeu como pode quebrar quase todos os ossos do corpo e não morrer mas foi dessa época que lembrava que quando foi retirado sua armadura de gesso havia uma pele inteira como um outro ele ou uma cobra que se deixou no passado e uma só vez.
- abandonamos nossos mortos mesmo antes que tenha morrido e não há nada que possa mudar essa condição disse ao açougueiro enquanto o homem removia o coração do animal que lhe garantiria, depois do transplante, mais outros anos de vida.
- eu sou um maldito porco desprezível...

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