20100908

Ensaio para um desabafo de algo que eventualmente possa ocorrer na roda gigante de Londres ou O beijo


Garoto, eu como gente no café da manhã!!! Foi o que pareceu que ela disse quando paramos por trinta segundo no céu. Foi quando beijei sua boca que percebi que nada era possível, passou um comboio de vagões que não terminava nunca apenas e não havia mais os pássaros cagando no resto das pessoas, nem tremores de terra que lançavam os carros para as outras ruas e os grandes segredos estavam no noticiário instantaneamente. Tentei dizer que aquilo já não era mais suficiente e que não havia mais o cataclismo que movia o desejo, afinal, ainda estávamos todos respirando; mas meu corpo todo fraco e preguiçoso se rendeu abrindo todas as janelas de casa para arejar o ambiente com o aroma anti tabaco das ruas Todos estavam tão felizes por aquele beijo que só podia entender como um complô das grandes corporações tentando me fazer sentir o salvador do que restava da vida no planeta, até o mar encheu-se de peixes voadores e os jardins zoológicos de animais extintos, passeatas de caranguejos tomaram as ruas das cidades litorâneas e revoadas de gafanhotos destruíam todas as pragas das lavouras desesperadamente como se todos pretendessem que eu visse que eles fizeram parte daquele cenário em uma homenagem ao retorno do amor. Todos exceto eu que não senti nada além da vontade da transgressão, não podia respirar em baixo da água nem criar coisas novas com o apontar dos dedos e não podia entender porque todas as criaturas estavam tão convictas que aquilo era o que eu esperava do amor. Assim como não votaria em um candidato com um respingo de lama na barra de sua calça e cuja transparência não mostrasse o que havia comido no primeiro dia de aula na segunda série do ensino fundamental, não entregaria meu amor como um governo que privatiza estradas e indústrias de base e comunicações e educação e saúde e a própria administração; talvez fosse apenas um surto de valores familiares que voltava como ácido lisérgico ou uma vontade insuportável que céu e terra se revezassem em sua atribuições para que o lixo espacial se tornassem grandes ilhas de lama e as pessoas nunca mais parassem de cair e entendessem finalmente o nada; mas estava claro que não havia o conforto fetal ou o explodir atômico naquele beijo e apenas a perfeita sintonia de uma orquestra que se ouvia de uma língua fundindo-se na outra não era suficiente. Nos cobrimos com um cobertor sujo, fedendo a noites não dormidas, cigarro e café solúvel; para que houvesse alguma privacidade naquilo que se seguiu, porque nunca confiei em mim mesmo e em como a noite pode ser tão negra que mesmo o chão se apavora e desaparece, mas alguém deve ter gritado odeio quem me rouba a solidão sem verdadeiramente oferecer companhia, enquanto se ouvia na televisão não sei amar pela metade ou era vou me abster.

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