20091218

NARCISO INC. às vésperas de seu segundo centenário



Minha filha casou com aquele vagabundo imprestável era o que dizia seu olhar na foto de fim de ano com a família reunida ao entorno da árvore de natal... nunca foi um cara muito exigente quanto às coisas da vida, sempre foi acusado de ser um hedonista por seus amigos mais próximos,mas pensar que sua filha teria filhos com uma nulidade bípede era algo que renegar todo seu esforço para tornar o mundo ( ao menos o mundo dos que estavam ao alcance dos seus sentidos mais utilizados) um lugar melhor.

A mulher, a ex mulher e a amante ( dele, não da ex mulher) não concordavam com sua visão em relação às escolhas que acreditava as mais acertadas para se tomar na vida, mas aceitavam como quem não quer arrumar um problema sem solução com um portador de algum tipo de psicopatia; achavam que um cara bem sucedido poderia proporcionar uma série imensurável de prazeres que elas sequer conseguiam imaginar em seus mais psicodélicos sonhos ou vislumbrariam ao lado ( nas diversas etapas da(s) vida(s) ) daquele velho com a cara marcada com as cicatrizes de uma vida de excessos.

Lembrava sempre, enquanto olhava para sua filha sentada no sofá de forração de fibra de cãnhamo, dos caras que ao lado de suas rainhas do lar com calças mais justas que o próprio deus,empurravam carrinhos de supermercado cheios de coisas com suas caras de tapete-exausto e roupas escolhidas por elas circulando pelos corredores... nunca conseguia conter o riso ( e todos olhavam de viés como chuva obliqua para o louco) ao ver essas caras que eram como um padrão e ainda são, de maridos que não entenderam a dinâmica do processo e continuam empurrando carrinhos cheios de mais coisas... mas sabia também que de algum modo, que não compreendia, era para alguma civilização um ser patético, mas isso nunca o incomodava... a possibilidade de uma guerra entre humanos e vampiros talvez o tirassem de seus pensamentos aéreos e egoistas.

Olhou mais uma vez para todos os que estavam na sala articulando suas bocas e só ouvia o som incômodo do silêncio e pensou: vou provar o ponche de maçã...

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