20091229

nArCiSo InC. # 16

Notava-se claramente que era uma criança de 42 anos; o livrinho com capa de couro falso para anotações procurava desesperadamente pela cidade uma boa história, uma palavra que ligasse alguma âncora subsunçora ou mesmo um pouco de atenção ou reconhecimento...mas nada... nada lhe despertava nada, um vazio sem perspectiva de preenchimento era o mais palpável para as folhas em branco.
Só conseguia amar a si e a humanidade, os vegetais, animais e minerais e essa falta de amor partia seu coração que desejava amar, de modo algum conseguia amar as coisas abstratas nem de poemas abstratos podia se forçar a gostar e achava os quadros de jackson polock uma visão do mal-estar... procurou na meditação a cura para essa sua incapacidade de amar mas a meditação era abstrata e surgiu um sentimento de repulsa quando ouvia o som do silêncio ou mesmo quando ouvia o eco da própria voz tinha náuseas porque lembrava os mantras que entoou... o próprio sentimento que sentia a respeito das coisas de sentir apertavam seus estômago e corria para o banheiro para vomitar... era um caso perdido para todas as ciências médicas porque tudo era sentir ou intuir...
Também não... reconheceu que não deveria piscar tão forte, talvez se tentar observar melhor encontrasse a razão de tudo se esconder de seus olhos...mas era tão improvável isso também
Um cigarro não era possível mais, pela lei e pela saúde... talvez fosse isso, algo subversivo... quebrar as regras que nunca respeitou de fato, mergulhar em algo podre... mas isso já era a sua vida e não compactuava com sua exposição para estranhos...
Pensou se não era uma espécie de louco que todos poupavam não revelando que era louco... e se tudo o que pensou e intuiu até hoje eram resultado de uma visão equivocada da realidade e se acordasse de repente e estivesse com 16 anos...
Resolveu fechar o livrinho e não escrever mais nada até ter algo que quisesse dizer...

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