20110503

NARCISO INC. entrevista a mosca que caiu na sua sopa


Ni. - como se deu sua entrada no cinema?

Mr. M - começou com aquela coisa de rodar um filme sobre um diretor de cinema europeu que nunca fazia um filme bom e aquela coisa da inspiração e da falta de vondade; então uma amiga da minha prima disse que estava rolando uns textes para um filme e eu fui e acabaram me escolhendo para fazer uma mosca da banana mas nos ensaios acabou caindo no meu colo o papel de varejera; foi uma experiência muito gratificante do ponto de vista das idéias; uma equipe muito generosa no trato com a arte, pessoas mesmo

Ni. - depois você fez o que... a mosca da sopa? qual a sua relação com a sopa? você parecia ter nascido para aquele papel

Mr. M - vou dizer aqui pela primeira vez, eu sou viciado em sopa, talvez por isso me identifiquei tanto com a personagem e deu no que deu; deve ser algo relacionado com meu perído de crescimento, mas eu simplesmente perco a razão com um prato de sopa; é mais ou menos assim: se você colocar um sanduiche com batata frita e refrigerante e sopa eu como a sopa, se você colocar um prato de merda e sopa eu como a sopa, se você colocar sei lá qualquer coisa eu prefiro sempre sopa

Ni. - mas você dizendo assim, não acha que é um trantorno obsessivo compulsivo por sopa?

Mr. M - na verdade eu nem acho tanto, se você ver as mariposas, elas sabem que vão torrar mas vão para a luz, o pernilongo sabe que vai ser esmagado mas não deixa de picar para recolher o sangue; na verdade eu acredito que todo mundo deve respeitar mais seus desejos; nossa sociedade está demasiado pasteurizada, tudo muito limpo, muita assepsia

Ni. - dizem que em seu último filme você teve uma discussão encolerada com quem dividia a cena com você

Mr. M - mermão, foi foda... muito amadorismo nesse meio... eu sei que o diretor queria que eu entrasse pelo nariz e saisse pela boca em uma tomada só, até aí beleza você está ali para fazer o melhor e tal e coisa, já ia ter que correr para a cena ficar mais enxuta e não cansar o público porque não se tratava de um filme de arte; ai a porra que diz estar atuando vem me dizer se eu havia lavado a mãos para entrar em seu corpo, foi a gotad'água pra mim, falei memo, eu sou mosca caralho eu vomito o tempo todo quer o que? que eu deixe de ser mosca que eu fique com a minha boca suja sendo que meus pés e minhas mãos vão estar no chão de qualquer modo, porque as moscas são assim; no fim era um nariz tão sujo e tanta comida mal mastigada naquela boca que quando terminei a cena tive que tomar banho de álcool isopropílico por dois dias

Ni. - as lagartas sabem que vão virar borboletas?

Mr. M - eu acredito que não, porque elas as lagartas acreditam mesmo, e porque a mídia corrobora com essa campanha toda de propaganda massiva junto as lagartas, que se tornarão mambas negras; na verdade eu fico até meio assim de falar porque tem gente que prefere nem saber, só que eu acredito também tá que elas deveriam ter o direito de escolher ser de repente engodo para pescaria o que não acontece porque elas são preparadas e condicionadas pelo mercado que só atende suas próprias necessidades

Ni. - você já foi conhecido como ô bicho nojento do inferno e hoje tem-se a impressão que você está mais sereno; você concorda que não havendo mais as terminações em entendeu você acaba meio que cagando e andando para qualquer coisa?

- se você entender a dinâmica das coisas como tecnologia, você vai concluir que exceto pelas pedras que são consideradas derrames e, ato contínuo, para além das considerações extemporâneas de contemporaneidade, ou seja, fora de controle, tudo o que há está estreitamente ligado ao... qual era mesmo a pergunta?

Ni. - você acredita que houve alguma ruptura em o que você era e o que você é enquanto mosca e agente orgânico produtor e consumidor histórico?

Mr. M - tinha gente se defendendo das acusações de genocídio com o discurso de que porra ninguém pode estar certo o tempo todo faz parte da natureza humana se equivocar de vez enquando; ou mesmo, tem gente que reclama até mesmo de beijo na boca e pagamento em dia só que caralho precisa ser no chapéu mexicano em sobrevelocidade? mermão , estamos inseridos e eu diria atolados no alcatrão do sistema e aplaudindo quando se atinge metas alheias aos interesses dos trabalhadores internacionalistas, sem contar, está claro, o cheiro do chorume que agora virou fragrância

Ni. - a antropologia diz que por causa do dzecroquettes todo mundo agora no brasil virou gente

Mr. M - mas era verdade mesmo nós queríamos era só alegria quando decidimos impor para nossos filhos que eles fossem viver a vida plenamente , pensavámos em levar eles para todos os lugares e poder carregar suas bagagens e isso é outra coisa meus camaradas vamos deixar de lado essa coisa de boca fechada que quem não fala não pode ser ouvido e quem não vê não pode ser visto e você caminhava como uma cobra voadora

Ni. - ?

Mr. M - acontece que quando você é apenas uma larvinha frágil e indefesa você só pensa em envelhecer para de modo autônomo dar seus pulos e alçar seus próprios vôos, então quando você está enquanto sujeito enrugado nos braços da maturidade só quer saber de máquina do tempo e essas merdas de transferência que acabam te deprimindo e essas merdas à base de calmantes para dormir.

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